segunda-feira, 5 de agosto de 2013

::Brasil deve crescer pouco nos próximos três anos, afirma S&P



Agência prevê crescimento de 2% do PIB do País em 2013 e uma média de 2,6% nos próximos anos



LONDRES - A agência de classificação de risco Standard & Poor's jogou um balde de água fria nas perspectivas para o crescimento da economia brasileira nos próximos anos. Ao lembrar que anos atrás o País era "comparado com economias de rápido crescimento como a Índia e China", a agência diz que o quadro mudou e que o crescimento "modesto" deve se repetir pelos próximos três anos, quando o País deve crescer a uma média de 2,6% ao ano. Para 2013, a agência prevê crescimento de 2%.

"O Brasil deve ter o terceiro ano de crescimento econômico modesto. E nós não esperamos que as perspectivas de crescimento mudem muito ao longo dos próximos três anos", destaca o relatório "Brasil Diante de Velhos e Novos Desafios" assinado pelo analista da agência, Sebastian Briozzo.
 Para a agência de classificação de risco, o fraco desempenho da economia brasileira tem várias razões. "Reflete o desempenho modesto das exportações e o declínio do investimento do setor privado, em parte causado pelos sinais ambíguos da política do governo, o que tem reduzido a confiança dos investidores", destaca o documento. No lado da demanda, o consumo também dá sinais de cansaço. "Os gastos das famílias também podem desacelerar ainda mais pelo endividamento do consumidor", diz o documento.
 Para a agência que avalia o risco de países e empresas, um dos problemas gerados por esse quadro de menor dinamismo econômico é o "enfraquecimento" do quadro fiscal, o que inclui a deterioração dos resultados das contas públicas e um aumento do peso da dívida pública.
 Fiscal. Para a agência, o reforço da estratégia anticíclica pelo governo federal pode ser uma ameaça ao rating brasileiro. "Dado o espaço fiscal já limitado do Brasil, uma estratégia que se baseia em políticas ainda mais ambiciosas no papel anticíclico para estimular a atividade econômica pode causar aumento da dívida pública a ponto de torná-la inconsistente com a nossa classificação atual", diz a agência em relatório.
 No relatório, a S&P destaca que, nesse esforço anticíclico, a ação dos bancos públicos também está incluída e é acompanhada com atenção. Ao dar exemplos de ações anticíclicas, a agência cita nominalmente "a política parafiscal com base na concessão de empréstimos pelos bancos de propriedade do governo".
 Ao citar que o governo vem tentando aumentar o peso do investimento na dinamização da economia, a agência nota que uma "abordagem ambígua e errática do governo" nos últimos anos não permitiu que o setor privado aumentasse o nível de investimento na economia.
 O documento também chama atenção para o pedido dos governos regionais em aumentar a flexibilidade fiscal. "O aumento menos dinâmico das receitas e a pressão para aumentar as despesas também atingiram os governos locais e regionais", diz o documento, que comenta que os maiores Estados brasileiros também terão de enfrentar a ambiciosa meta de aumento o investimento sem deixar a Lei de Responsabilidade Fiscal de lado.
 "Em nossa opinião, uma abordagem mais flexível para o financiamento que, gradualmente, permita aos Estados assumir novas dívidas poderia ser uma solução, mas também poderia implicar riscos adicionais", diz a S&P.
 Protestos. Ainda sem ter conseguido resolver velhos problemas econômicos, o Brasil enfrenta novos desafios, na avaliação é da S&P. "A nova classe média está aumentando a pressão por demandas que incluem a inflação baixa, melhores serviços públicos, infraestrutura e habitação", afirma a S&P, ao lembrar dos protestos que ganharam as ruas do País desde junho. Entre os principais desafios, a agência diz que o aumento do investimento na economia surge como uma das necessidades mais urgentes.
 A S&P descreve que "os principais impedimentos para o aumento do investimento do setor público e privado estão no cerne dos problemas que o Brasil terá de resolver em período de cinco a dez anos para continuar seu processo de desenvolvimento econômico sustentável".
 Um dos exemplos da permanência dos velhos problemas é o setor público: "Há décadas, existe dificuldade em se reformar o setor público, que continua a ser mais um obstáculo que um instrumento de dinamização da economia". A agência reconhece que a dívida externa e o custo da dívida pública "diminuíram significativamente" ao longo dos últimos 14 anos. "No entanto, a dívida líquida do governo continua elevada. Durante décadas, o Brasil não conseguiu reformar amplamente o sistema previdenciário ou a estrutura tributária."
 Mesmo sem ter resolvido a "velha pauta", o Brasil tem agora outra lista de prioridades. "Como as enormes manifestações de junho mostraram, o governo não está conseguindo atender às expectativas da população. Em grande medida, essa nova classe média está enfrentando uma infraestrutura do Brasil antigo, destinada a um tipo diferente de estrutura social", diz o documento, que cita que a reforma do setor público "é fundamental" para que sejam criadas condições para a solução do problema.
 Para resolver a infraestrutura, o investimento terá de ser realizado com atenção à questão fiscal, adverte a S&P. "O aspecto crítico será lidar com os desafios novos e antigos e encontrar soluções que sejam consistentes com um caminho sustentável a médio e longo prazo", declara o texto. "Tal como no passado, uma abordagem sustentável de longo prazo é aquela que mantém a estabilidade econômica, limitando políticas inconsistentes e impulsionando o investimento do setor público e privado."



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